quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Food... is the most important meal of the day

Era meia-noite em ponto menos dez minutos.
Um homem careca de cabelos pretos,
Sentado num banco de pau feito de pedra,
Lia o seu jornal sem letras, à luz de uma vela apagada;
E muito calado dizia:
- Mais vale o mar dar batatas do que a terra dar lodo,
Porque a terra é uma bola quadrada parada
Que gira de gira à volta de uma estrela chamada Lua.

Enviado por Sónia Caetano

domingo, 16 de dezembro de 2012

"Não é muito nem pouco, é muito"

      Fora no momento do banho que toda a epifania se evaporara num segundo.
      - Bom dia.
      - Bom dia.
      Tudo fizera sentido naquele diálogo breve e de poucas palavras. Apenas não percebera quem teria retorquido ao seu início conversacional.
      Decidira comer um Mon Cheri e continuar o banho de espuma. Passados dois segundos e 94 nanossegundos, morreu. De êxtase.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Vilela, o vilão corrupto

Boa noite. É um prazer enorme regressar ao blog, que continua ao que parece na crista da onda. Sem visualizações adicionais nem comentários, o que coloca este espaço cibernáutico no patamar dos blogs mais respeitados e frequentados desta zona da cidade. Talvez será também o único. Este pequeno segmento textual não foi projectado numa aula de Direito Administrativo, posso assegurar...

 Aos 19 anos de idade, Vilela tinha mentalidade correspondente a uma pessoa de 18 anos. Este facto iria determinar todo o seu percurso biográfico. Tornara-o uma pessoa frívola e, de certa forma, egoísta. Sem mais demoras, tentou reverter este processo, mas nada poderia deter o que viria... Passados 34 meses, o pequeno rapaz conseguira arranjar diversos e distintos empregos. Fora cozinheiro de lulas, cozinheiro de sapateiras e até fora um cozinheiro com competências gerais. Mas onde florescera enquanto ser humano fora num trabalho a meio tempo, um trabalho em que vendia bilhetes consignados a concertos do Tony Carreira no pavilhão Atlântico. Rapidamente perdera o emprego, pois os objectivo deste emprego/carreira era vender mais bilhetes do que lugares existentes. Vilela ficara abalado. Abalado de vez.
 Mas o tempo passou, e com ele os dias tornaram-se meses. E os meses em conjunto de dias. O rapaz sobrevivera aos últimos impactos emocionais e demonstrara uma capacidade única de.. Sim, era um talento único, de facto. Apenas não sabia o que esse talento era ou o que envolvia... E, deste modo, iniciou-se na carreira do crime corrupto. Furtava peixe das bancas do mercado e trocava-os por fruta. Em três dias, conseguira sabotar os mercados principais da zona centro... Os vendedores de peixe já não sabiam como lidar com estes acontecimentos. Como teriam chegado as beterrabas às suas bancas? Que mal teriam feito? Como tinham chegado àquele estado degradante de má vida? A maior corrupção de Vilela fora corromper a vida de inocentes...

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

Pessoa física que põe aquele órgão a funcionar

Olá, amigos cibernautas. Finalmente, Apreciadora de Cogumelos revelou.. Não vou continuar esta frase, nem sei o que queria dizer.
Quero avisar que o título da próxima história é baseado numa frase que ouvi, não é da minha autoria, mas por achar que tem uma ratio essendi inata, decidi utilizá-lo.

P.S. Este texto não foi escrito durante uma aula de Direito Administrativo.
P.P.S Do 1º semestre.



                                           Pessoa física que põe aquele órgão a funcionar


       Anastácio Mário tinha tudo para ser feliz: uma família disléxica, um porco-espinho com cascos, uma habitação mais ou menos talvez bem frequentada... Tudo para dar certo. No entanto, as suas viagens a Mafra desolavam-no, de modo reiterado e misterioso.
      Viajava sempre num veículo terrestre ligeiro, de cor vermelho-azul, e costumava ouvir no rádio a música "Stayin´Alive", cantando ao mesmo tempo. De todas as vezes, ficava com uma crise de soluços, que podia durar de 23 segundos a 60 minutos... Para piorar a situação, tornava-se paraplégico.
      Durante os períodos de paragem motora, sofria certas crises de alucinações gustativas, sendo vítima impotente de fortes sensações orgásmicas pulsativas na língua causadas por chocolate preto com anchovas.
      Porém, esta felicidade não podia durar eternamente, Depois da bonança viria a tempestade. Anastácio não sabia se eram 0 horas do dia 15 ou 24 horas do dia 14. Chovia desmesuradamente. Era o dia dos seus 18 anos... Alugara um táxi-cavalo para chegar a acasa o mais rapidamente possível, pois sabia que à sua espera estava uma festa surpresa organizada pela sua mais que tudo, Bruna Paula, uma mulher robusta e badocha, com idade entre os 15 e os 45 anos. Bruna dizia que se apaixonara por Anastácio, pois este a fizera lembrar dos anos em que fora raptada por um OVNI, sugada em direcção aos céus, e tivera experiências sexuais intergalácticas durante, pelo menos, 17 meses seguidos. O alien preferido da jovem era Zurg, que partilhava com Anastácio uma particularidade colossal: eram unicelhas.
     Pensava que, por ir de táxi, se livraria daqueles episódios imemoráveis de que constantemente se recordava. Estava enganado. Ao chegar a casa, pelo próprio pé, completamente paralisado, deparara-se com uma situação indescritível... Bruna Paula encontrava-se numa posição, de alguma forma, exercendo uma actividade definida mas vaga... Vestia também uma camisola. O choque foi total. A camisola mostrava a imagem do município de Azenhas do Mar. Em cima, estava o presidente da Câmara Municipal de Ansião. Tinha havido osmose de municípios...


FIM

terça-feira, 27 de novembro de 2012

A casa de sopas em Mértola

      Dorinda enfrentava fantasmas do passado. Em vidas anteriores, teria sido um texugo com anatomia semelhante a um papa-formigas vegetariano que destruíra as colheitas anuais da sua comunidade, e também, mais recentemente, um camionista que fazia ligação entre o Café-Restaurante do Abílio e a Pousada de Arlete. Falecera durante uma dessas viagens e a autópsia revelara que a mistura de sopa de grão com molho barbecue fora fatal, apesar do acidente se ter verificado de noite e apenas ter consumido pequeno-almoço nesse dia. Dorinda soubera destas desventuras através de Zélia, a bruxa que vivia entre os montes. A partir desse instante, o seu dia-a-dia não mais seria aquele recanto da serenidade que procurava. Iria pagar pelos erros cometidos anteriormente...

      Os anos passavam e as marcas dos castigos iam-se revelando. Em apenas duas semanas, fora exposta aos maiores perigos conhecidos pela civilização. Fora atropelada por um tractocarro que circulava a 15 km/h e seguidamente teria sido abalroada pelos ciclistas da Volta ao Bombarral em bicicleta. Os ferimentos eram incontornáveis... Somente um milagre traria Dorinda de regresso às suas capacidades motoras normais.
   
      No seu veículo, parte cadeira-de-rodas, parte motorizada a vapor, feito à sua medida pelo Abílio do café, Dorinda decidiu partir para longe. Não pretendia voltar, mas nem chegou a ir... A cadeira-de-rodas não tinha combustível, e os preços haviam subido em flecha. Não podia ser pior.

      Nada podia ser, de facto, pior. A não ser algo que não fosse melhor nem igualmente mau. A vila tornara-se demasiado pequena para as aspirações de Dorinda. Conhecia cada calçada, cada parede, cada janela de toda a localidade. Queria mais, queria visualizar tudo o que não tinha visto antes. E o inconcebível aconteceu... Encontrou o circo dos cinco anões, uma tenda enorme com espaço para 125 anões gigantes...

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A cebola vermelha

      A função derivada estava integrada. Era o fim. Hermenegilda Caetano tinha ido ao mercado nesse dia com o intuito de comprar couves e beterrabas frias, mas acabara por trazer duas ovelhas idosas que só sabiam cortar fios capilares femininos.
      - Isto é como tudo - dizia Hermenegilda. - Não há-de ser nada.
      Nestas palavras de sabedoria, o mundo enclausurava-se em si mesmo. As ovelhas tinham um historial significativamente pernicioso e instável. Nos primeiros 5 anos de vida, tinham sido propriedade do circo Bate-Masim, especializado no treino de suínos amarelados. Ao cabo desse tempo, os proprietários deram conta do gravoso engano negligente de que aqueles animais erradamente tinham permanecido no referido estabelecimento. No tempo subsequente, as ovelhas foram transaccionadas para um quartel de bombeiros com postes-varão comprados em bares de moral duvidosa. Na caixa violeta-turquesa no gabinete de Antunes, comissário-mor, estava uma cebola picante e avermelhada...
      Essa cebola seria a destruição de Hermenegilda, bem como das respectivas ovelhas. Mas mal tinha ela conhecimento desse facto emergente. Voltou ao mercado. Queria devolver as ovelhas. Um homem de aspecto frito e gorduroso, de caracóis dourados, surgiu-se-lhe como um anjo Gabriel a anunciar o nascimento de um bebé de mãe virgem. Para aquela gorda senhora, foi mais do que um sinal de Deus - foi uma dádiva do mundo animal. O olhar matador de Antunes fixou-a e a sua mão dirigiu-se-lhe com uma redonda e reluzente cebola. Pretendia comprar as ovelhas com aquela jóia da agricultura moderna.
      Hermenegilda não resistiu. Só conseguia olhar para a cebola, e imediata e irreflectidamente, activou um contrato de compra e venda entre si mesma e a alma terrena ante si.
      Sem factualidades duvidosas, remanescia sim ainda um desengano. Ximenes, uma das ovelhas, descendia de uma linhagem com mais de 3900 anos. A sua cabeça estava a prémio para o talho do José João Joel, monopolista talhante de Alcabideche. Quinze mil euros e um saco de vísceras de porco ibérico seria a recompensa.
      E Inocêncio Celso conhecia os seis cantos do mundo. Isto acontecera porque tinha ficado preso a um balão de ar quente que andou perdido durante 9051 dias pela Tailândia e Malásia. Quando avistara o panfleto publicitário ao caso de Ximenes, assumira-se logo como o único capaz de levar a cabo este mandato. E sentira, no mais fundo de si, que já se tinha efectivamente entrecruzado com Ximenes. E assim fora...
      Trinta anos antes, tudo se precipitara. Ximenes era uma bailarina vestida de lã e Inocêncio era um pastor robusto. O intercâmbio dera-se. A gravidez era segura... Hermenegilda seria o nome escolhido pelos pais...

sexta-feira, 12 de outubro de 2012

Regresso após um certo tempo ausente



          Questiono-me como será possível que as questões audio-visuais tenham aumentado de forma tão acentuada... Parece ser um enorme sucesso e, portanto, não quero deixar de agradecer a todos estes milhares de fãs que proporcionaram centenas de visualizações. Ou, então, por outro lado, fui eu, Irradiador a Óleo, juntamente com a esbelta e muy bela Apreciadora de Cogumelos que dilatámos o número de visitas a cada entrada no blogue. Suspeito disso, sim.
          Finda esta pequena introdução, deixo uma história acabada de ser escrita, em que as palavras não começam pela mesma letra. Finalmente, algo de original.



        Josué Rufino estava no fim da linha. Procurava, desesperava, mas não conseguia. Tinha decididamente chegado a uma bifurcação, nunca antes vista, nunca antes sentida. Estava desempregado, e não tinha perspectivas de carreira... Encontrara, no entanto, dois anúncios referentes a trabalho humano, enquanto ofício ou profissão. Josué ou podia candidatar-se a senhor da bomba de gasolina da REPSOL em Abrantes, ou poderia concorrer ao cargo de treinador do Sporting. Optou pela via onde tinha mais concorrência... E dirigiu-se a esta cidade do centro de Portugal...
       Com um currículo bastante vasto, decorrente de várias experiências passadas, desde vendedor de diciopédias no Bairro Alto a técnico supervisor de lutadores de sumo, cuja função principal seria retirar o suor destes durantes os intervalos de combates profissionais, nada poderia fazer com que Rufino fosse rejeitado naquele pacato posto de abastecimento de combustível...
       Dias passaram, semanas decorreram, meses pareciam acumular dias, e Josué confundia anos com horas. Sim, o seu forte nunca fora a Matemática. Revia-se naquele panfleto publicitário da Worten "O nosso forte é o preço".
       Passavam 45 minutos das 10h45 quando a bomba da REPSOL do Albano de Abrantes explodira... A culpa teria sido atribuída a Josué, mas após uma pequena entrevista a Albano, tudo se imiscuíra numa nuvem densa de confusão.
       - Senhor Albano, como se sucedeu tudo?
       - Estava eu a atestar! Estava eu a trabalhar. Veio um jovem com um maçarico e que me pediu para ir ao shopping da bomba. E eu não deixei que ele levasse aquele instrumento!
       - Mas acaba aí?
       - Não, com a confusão..peguei no maçarico e atestei um camião cisterna que ali estava.
       A explosão fora inevitável. Um napalm atómico jamais visto e compreendido. Tudo o que estava à volta era cinza.. Rufino assumira a culpa de tudo, apesar de  Albano ter sido o verdadeiro responsável. Mas tinha protagonizado este acto heróico e altruísta a troco de algo que o dinheiro não pode comprar.. Um voucher de 20 euros oferecido pelo seu chefe, um voucher que lhe permitiria obter uma massagem completa no Cabeleireiro Rute ali de Abrantes. Rute tinha 70 anos de experiência em massagens. Era um número que Josué não poderia recusar...

domingo, 24 de junho de 2012

Abacates alados

Andava Aluísio Andrade abatido. "Amanhã achar-me-ei alegre", alegava. Aparentemente, ao amanhecer aparecia apagado, apático...
Administrava anualmente analgésicos, argumentando articulações alteradas após ataques asmáticos. Amava Anabela, a arrogante analista alemã, anteriormente assistente-ajudante. Acreditava-se anglicano azarado, adorando anjos assemelhados a amarelos abacates alados. Adoptado, afastava apreensivamente a avó anafada, antiga acrobata amadora. Aluísio adorava amêijoas.
Agricultor afincado, assustou-se acentuadamente ao apanhar apetitosas ameixas azuis... aparecera a aparvalhada andorinha anã. Aí, ascendeu amavelmente a Alá...
Acabou anoréctico, após anos abundantemente alimentado.

quinta-feira, 31 de maio de 2012

Rrrr...

Ricardo Ramalho, ribatejano ruivo, rubricava revistas. Raramente ridicularizava reis rabugentos, realizando rapidamente rascunhos recomendados. Reclamava recitar recados reles, reciclando-os refinadamente. Regateava refrigeradores rijos, regulamentando-os regularmente. Regia-se reivindicando relutantemente relojoaria recuperada.
Reportagens repetidas repeliam-no, reprovadas. Respostas responsáveis ressoavam rentáveis. Restabelecia resina resplandecente respeitavelmente. Reunia restaurantes, requisitando rigorosamente requeijões.
Rezava religiosamente. Revirava revisões românticas roboticamente, relendo romances. Rosnava rumores rudes. Rivalizavam-no répteis repugnantes, rãs roxas, ratos ruidosos, rinocerontes ruins...
Rotineiramente rapinava revólveres rudimentares rascas. Raças radicais revoltavam-no raivosamente. Raptava reflectidamente rapazes ricos. Realmente, recuperou rebuçados, recordando reconquistas reencontradas.
Repentinamente, reformou-se, remitindo roubos relevantes relembrados.

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Put a fucking title.

       - Emocionou-se-me de tantas vezes verificar o mesmo. Não creio que jamais volte a sentir toda esta envoltura psicológica, densa e complexa.
       Todo este pensamento verbalizado por Padre Dionísio fez Joel perceber que nem tudo tinha uma justificação ou fundamentação densificativa. Se, por um lado, os aguaceiros não duravam todo o dia, por outro, parte de si fugira com toda aquela retórica argumentativa.
      A ligação de Joel às questões eclesiásticas começara muitos anos antes, quando se aventurara por mundos de sensualidade e de índole pagã. Numa solução imiscível, misturara-se com mulheres dos quatro cantos do mundo. Mas sempre do mesmo local. O resultado foi inevitável.
      - Quero confessar-me, senhor padre Dionísio. Faço parte dos partidos dos Verdes, não obstante gostar de ideais de extrema direita. Sinto que a minha vida chegou ao precipício, tento dar a volta mas que todo ele me circunda.
      A sentença era dura e severa. Mostra a um público de pelo menos 12 pessoas o teu arrependimento.

     Dezenas de dias mais tarde, no pelourinho da cidade, o aparato começara. Joel Dinis, pedira à cidade, por correio electrónico, para se juntar ali, que tudo se iria esclarecer sobre o desaparecimento das 764 carteiras de senhora no último domingo, durante as festividades no mercado...
Num discurso emocionado, longo e profundo, proferiu as suas palavras:
- Amigos...Obrigado..

    Todos sabiam que ele não tinha o poder de oratória de outrora, mas a revolta gerou-se... Joel Dinis acabou por ser ferido, gravemente atingido por um brinco de senhora, que se perdeu no meio de todos os materiais atirados...

quinta-feira, 26 de abril de 2012

A herança do sabonete azul de Mafra

      O relógio indicava 5 horas da manhã, mas na verdade eram 17 horas. Valentino Júlio conhecia pessoas nos 17 bairros e moradias do Entroncamento. No entanto, algo parecia não resultar e as dúvidas começavam a adensar-se e a sobrepor-se a todas as suas forças. Tudo começara com a vinda do "Sarmento"...

      Numa manhã primaveril de outono, Valentino já tinha decidido o que seria o seu pequeno-almoço: um congelado de frango com recheio de iscas e sopa de ameixa. De súbito, algo se sucedeu. Uma aparição do seu trisavô, Mateus Júlio, que tinha morrido na 1ª Guerra Mundial, durante um concurso que premiava quem comesse mais cebola picante, surgiu-se-lhe e falou-lhe:

      - Não comas esse congelado. Podes clonar os genes aí presentes e criar um animal de estimação que no passado foi extinto, um dodó.

      Seria da fome e estaria com visões, ou seria um aviso do futuro? De facto, era misterioso...

      Valentino levou o congelado de frango com recheio de iscas para o seu laboratório secreto montado na cave de sua casa. Colocou-o na máquina de clonagem... Se isto resultasse, seria o maior feito da História desde a invenção do esterilizador de pinguins.

      Tudo correu bem, o dodó foi criado, e o seu dono decidiu dar-lhe o nome de "Sarmento".

      Sarmento era um bicho prestável, sem pulgas, derivado e bonito. Seria agradável, mas não foi. O dodó acabou por se revelar um pássaro de mau carácter. Ainda por cima, ficou feio. Sarmento afastava o mulherio de Valentino, roubava-lhe as meias e desligava-lhe o frigorífico, o que causava o descongelamento dos frangos. Os frangos quentes retornavam à vida e dirigiam-se frequentemente à cave, atraídos pela porta convidativa e pelo odor a iscas...

sábado, 21 de abril de 2012

Os enamorados amelanciados

          Dois meses tinham passado. Mas o relógio da mesa-de-cabeceira de pau-preto permanecera alterado. Adélio sentia-se traído pelo vil destino. Tinha faltado ao único compromisso amoroso em 3 anos. Ela era divina e sublime, apenas aparentava um grave problema de pé-de-atleta. Nem tudo isto parecia ser um obstáculo às pretensões do robusto e firme sonâmbulo das ruas do Bombarral. Inexplicavelmente, acordava de rompante todos os dias com o cheiro imundo de tremoços vindo da adega do senhor Lenhoso.

         No que dizia respeito à sua vida amorosa, acreditava na intervenção do fado. Mas nunca acharia que iria encontrar tal beldade como Urraca, a senhora portadora de pé-de-atleta, curiosamente apenas num dos pés.

        O entrecruzamento destas vidas mortais tinha-se dado num acontecimento fugaz. O encontro proporcionara-se da tenda de Adélio, vendedor de leitões, na festa regional do vinho do Oeste. Sem mais demoras, envolveram-se num único beijo provocado pelo intenso contacto sensorial entre ambos. Naquele conjunto de corpos, não mais se distinguia entre coxas, o pé com o pé-de-atleta de Urraca, ou o hálito de maracujá com tendências olfativas para alho vindo de Adélio…

Jogo do bar

      Era uma vez um Miguel, que era conhecido pelos seus cachorros desleais. Não tinha cadeiras, mas era uma pessoa traidora em toda a sua essência. Queria um dodó de estimação para lhe fazer cócegas durante o Julho, nomeadamente nos períodos de mais chuva.
      Era cheio de raiva. Era isso que o fazia tão especial. Vivia perto de Famalicão, que fazia fronteira com a Oceânia. Eram tempos gostosos.

         Com a colaboração de Rute e Beatriz.