domingo, 17 de março de 2013

Partenogénese induzida

Hoje ouvi uma música. Não a compreendi bem. Nem sei se a ouvi. Mas era uma fusão de hard rock com vira minhoto. Excepto que não se notava o rock. Era só um hard vira minhoto. Senti que não aguentava tanta emoção. Tanto sentimentalismo num só conjunto de notas musicais. Até ao momento, nunca mais senti aquele som intenso e harmónico.
O mundo não acaba, apenas se transforma. O momento alto do dia foi sem dúvida aqueles prelúdios sonoros, mas agora vou fazer um piercing. Vou utilizar os ímanes do frigorífico como instrumentos auxiliadores da operação. Vai ser de elevado custo. Se utilizar a faca da cozinha como bisturi, pode ser que o preço astronómico deste procedimento baixe para 20.000€. Euros da Croácia. Apesar de esta ainda nem ter entrado na UE.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Valério, o Homem que fez acontecer

Boa noite.


É fascinante poder constatar que o blog está a atingir proporções estratosféricas. Penso que tal se deve a um conjunto de casos fortuitos, uma estratégia seguida desde o início por quem dirige este espaço. Julgamos que várias pessoas procuravam saber mais sobre a origem dos abacates e que, por engano do insidioso destino, vieram parar a este local virtual. A todos esses, o meu mais sincero pedido de desculpas. Regresso com um pequeno conto.




           Em 70 anos de existência, o pequeno estabelecimento comercial do senhor Valério Sabino nunca tinha experimentado o sabor do sucesso. Isto porque nunca esteve sintonizado com as reais necessidades das populações. Vendia tintas para impressora quando estas ainda não tinham sido criadas, comercializava condimentos em alturas de escassez de alimentos, e inventou um sistema primitivo semelhante ao Twitter, constituído por 2 pombos de rua, um pombo-correio e milho. Obviamente, a falência técnica esteve sempre no horizonte de Valério, mas este lutou e sobreviveu à selva do mundo económico. A nível conjugal, enfrentava problemas sérios. Apesar de ainda não estar casado. Nem ter perspectivas nesse sentido. Fisicamente, tinha um olho de vidro. Foi na Guerra do Líbano, em pleno combate, que tal se sucedera. Um carro de Rally despistara-se durante o circuito de Beirute e, inexplicavelmente, a embraiagem atingira a cara de Valério e o seu olho direito. A operação cirúrgica no Hospital correra bem. Apenas tinha havido um inconveniente. O médico interviera no outro olho. Portanto, Valério não tinha uma visão apurada, no que dizia respeito aos dois olhos.
         Todas estas circunstâncias não impediram Valério de encontrar o caminho da felicidade. Mas nunca conseguiu percorrê-lo. Porque não via bem. E fora ali, onde nunca esperaria que tal acontecesse, que tudo se proporcionou. E ela estava meia desnuda, meia vestida, com maior tendência para a nudez. E, apesar de ele não conseguir visualizar o cenário, conseguia cheirar, devido às competências olfactivas desenvolvidas. Mas o aroma era neutro e sem contexto no mundo dos cheiros. E recorreu ao tacto, a única arma que tinha para enfrentar este mostrengo da sensualidade.
         Estava no Centro Comercial Dolce Vita Miraflores. À sua frente, estava um manequim da loja de roupa interior da Vanda Stuart. Olharam-se e disseram em mútuo consentimento: o Amor é um lugar estranho.