sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Peço desculpa por não conseguirem ler

Carina tinha pena que os seus alunos não conseguissem ler o PowerPoint. Ricardo não gostou do comentário ao seu analfabetismo, pelo que verteu uma lágrima e continuou a escrever... O que não sabia.
Não era uma questão de não saber, era uma questão de não conseguir. Era um analfabetismo por impossibilidade superveniente de "inconseguimento", não de sapiência. Mas Carina tinha acertado numa coisa - havia um PowerPoint.

Mas as peripécias não ficaram por aqui. Do lado de fora da sala de aula, Fernando Ramiro recebia a iluminação divina: "A força maior dos axtraterretes não permite", exclamava. Carina ouvira algo, mas pensara estar a sofrer de um acidente de trabalho e, mostrando-se forte, ignorou.

Sentou-se, levantou-se, dirigiu-se ao seu PC, que mais parecia um tablet, porque daqui não se consegue ver bem, e falou: "Ele não ocultou ter perdido o pé."

Aquele discurso inflamado contagiou a sala. Sem dúvida, é impossível ocultar não ter um pé, mais fácil é esconder que não se tem os dois. Fernando Ramiro que o diga, tendo perdido ambos os pés numa batalha contra um caranguejo-eremita alienígena - ele nunca tivera hipótese contra aquela força maior axtraterrete, sendo ele um mero personagem de peripécias portuguesas. Apesar de não estar na aula de Carina, ele obtinha agora todo o conhecimento sobre o benefício que o acidente de trabalho traz ao sinistrado - a diferença das dores corresponde ao segundo traumatismo.

Ramiro retorquiu ao seu próprio pensamento: "Hoge não sorris fases caretas mas és bonita na mesma apenas desfarsas mas a beleza está lá apenas mostras a língua mas fica savendo que ficas muito + sexy e atraente, és Super Béla KISSES és muito Good e COOL BASTA ser HOMEM para ver isso é só saber apreciar e gostar do sexo oposto e não ser G, nem Bi, para ser algo ESPECIAL, - SUPER BONITA - XP+...LOL!!! KISSES..."

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Metodologia oblíqua

Jerónimo Luano trincava suavemente uma barra de chocolate não discriminada. Não era só uma barra. Era também uma exclusão de tudo aquilo que não substancia uma barra. Mas mais. Era de chocolate. Luano sentia estas características mais do que ninguém. Para além disto, tinha outros sentimentos. Por exemplo, por vezes sentia fome. Era nesta cadeia que se integrava a barra. De chocolate.

Fazendo um retrocesso evolutivo, este jovem mostrava-se desnudo aquando da abertura do pacote. Questionou-se que tipo de pacote estaria em causa. Um pacote de barras? Um pacote de chocolates? A confusão era evidente na mente de Jerónimo, e o que era óbvio tornou-se claro. Ele estava sem roupa - o pacote era empacotado.

Regressemos a um discurso coeso. Não se fala, obviamente, de uma barra de chocolate; estamos na presença de uma boneca insuflável sexualmente activa. Com forma de barra de chocolate. Era aí que Jerónimo encontrava o prius e o modus da sua dignificação sexual. Com ela, a boneca, denominada Natasha, atingia a ataraxia, colocado na posição de interveniente passivo, submetido às insidiosas acções de uma boneca parada, passiva e isolada de movimentos. Eram dois corpos parados. Mas ela mais activa que ele. E, como se sabe, Jerónimo carregava o penhasco da sua dignificante condenação, e conhecia 1001 maneiras de cozinhar bacalhau.