terça-feira, 3 de setembro de 2013

O Dilema do Frango

Prólogo

Josué Livramento era ainda um jovem rapaz quando o insidioso destino se intrometera na sua vida. Com apenas sete anos, nascera-lhe o dente do siso... Os infortúnios não ficaram por aqui, já que a sua namorada do infantário, Dora Soraia, o tinha infectado com candidíase enquanto partilhavam um Bongo de côco. No entanto, face a tantas dificuldades, Josué não desistiu, contra-atacou e tentou melhorar a sua vida.

Passados dez anos, o balanço final não era positivo. O pequeno rapaz tinha sido atropelado 27 vezes, 14 das quais no mesmo dia, à mesma hora, e pelo mesmo táxi-cavalo que funcionava recorrendo a energia eólica. Tinha sido expulso duas vezes da mesma escola por ter alterado a ementa de Sexta-Feira Santa, que naquele dia tinha sido Bacalhau à Rui Veloso.

Era bastante bom por sinal, mas Josué entendia ser seu dever acabar com o Bacalhau à Rui Veloso por todo o mundo. O Bacalhau e o Veloso tudo bem, mas era o Rui que lhe fazia confusão. Josué tinha um projecto que envolvia fazer coisas de modo a que um dia o exílio do bacalhau para o Brasil fosse uma realidade.

Tal projecto não se concretizou, pois Josué sofreu uma gastroentrite vil e cruel devido ao bolo rei com nozes que tinha ingerido durante uma ida à Vila Natal de Óbidos. Obviamente, a sua saúde não era de bronze, mas tudo parecia suceder-se encadeadamente. Os furúnculos, os dois pâncreas que Josué possuía, a sua dislexia visual, nada se comparava com o que estava para vir e acabar com a vida de Livramento. Livramento... Josué...! Ele sofria de... Ele tinha cabelo oleosamente seco... Nada podia segurá-lo à vida. Nem a sua sensual avó madrasta, que o tinha seduzido explicitamente, nem nada deste mundo. Josué visualizou um bistro de frango. Quando o olhou mais de perto, os acontecimentos precipitaram-se e o jovem acabou por digeri-lo. Não houve mais tempo para desilusões. Josué estava refastelado...


Participação de Rita

sexta-feira, 12 de abril de 2013

O umbigo só é importante na medida da importância que lhe é dada

Se existe um peixe-voador, não se compreende a razão de Deus, nos seus desígnios insondáveis, de não ter proporcionado aos camelos e aos dromedários asas para o mesmo efeito. Se as tivessem, estes poder-se-iam distinguir consoante tivessem uma ou duas bossas. Também poderiam conhecer novas culturas.

Na remota vila de Pesca-Pé, um pobre camelo morria à sede por ser cego. Ele não via que tinha uma fonte à sua frente...

domingo, 17 de março de 2013

Partenogénese induzida

Hoje ouvi uma música. Não a compreendi bem. Nem sei se a ouvi. Mas era uma fusão de hard rock com vira minhoto. Excepto que não se notava o rock. Era só um hard vira minhoto. Senti que não aguentava tanta emoção. Tanto sentimentalismo num só conjunto de notas musicais. Até ao momento, nunca mais senti aquele som intenso e harmónico.
O mundo não acaba, apenas se transforma. O momento alto do dia foi sem dúvida aqueles prelúdios sonoros, mas agora vou fazer um piercing. Vou utilizar os ímanes do frigorífico como instrumentos auxiliadores da operação. Vai ser de elevado custo. Se utilizar a faca da cozinha como bisturi, pode ser que o preço astronómico deste procedimento baixe para 20.000€. Euros da Croácia. Apesar de esta ainda nem ter entrado na UE.

sexta-feira, 8 de março de 2013

Valério, o Homem que fez acontecer

Boa noite.


É fascinante poder constatar que o blog está a atingir proporções estratosféricas. Penso que tal se deve a um conjunto de casos fortuitos, uma estratégia seguida desde o início por quem dirige este espaço. Julgamos que várias pessoas procuravam saber mais sobre a origem dos abacates e que, por engano do insidioso destino, vieram parar a este local virtual. A todos esses, o meu mais sincero pedido de desculpas. Regresso com um pequeno conto.




           Em 70 anos de existência, o pequeno estabelecimento comercial do senhor Valério Sabino nunca tinha experimentado o sabor do sucesso. Isto porque nunca esteve sintonizado com as reais necessidades das populações. Vendia tintas para impressora quando estas ainda não tinham sido criadas, comercializava condimentos em alturas de escassez de alimentos, e inventou um sistema primitivo semelhante ao Twitter, constituído por 2 pombos de rua, um pombo-correio e milho. Obviamente, a falência técnica esteve sempre no horizonte de Valério, mas este lutou e sobreviveu à selva do mundo económico. A nível conjugal, enfrentava problemas sérios. Apesar de ainda não estar casado. Nem ter perspectivas nesse sentido. Fisicamente, tinha um olho de vidro. Foi na Guerra do Líbano, em pleno combate, que tal se sucedera. Um carro de Rally despistara-se durante o circuito de Beirute e, inexplicavelmente, a embraiagem atingira a cara de Valério e o seu olho direito. A operação cirúrgica no Hospital correra bem. Apenas tinha havido um inconveniente. O médico interviera no outro olho. Portanto, Valério não tinha uma visão apurada, no que dizia respeito aos dois olhos.
         Todas estas circunstâncias não impediram Valério de encontrar o caminho da felicidade. Mas nunca conseguiu percorrê-lo. Porque não via bem. E fora ali, onde nunca esperaria que tal acontecesse, que tudo se proporcionou. E ela estava meia desnuda, meia vestida, com maior tendência para a nudez. E, apesar de ele não conseguir visualizar o cenário, conseguia cheirar, devido às competências olfactivas desenvolvidas. Mas o aroma era neutro e sem contexto no mundo dos cheiros. E recorreu ao tacto, a única arma que tinha para enfrentar este mostrengo da sensualidade.
         Estava no Centro Comercial Dolce Vita Miraflores. À sua frente, estava um manequim da loja de roupa interior da Vanda Stuart. Olharam-se e disseram em mútuo consentimento: o Amor é um lugar estranho.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Eu e tu. E os outros também.

Hoje fiz 18 anos. Na verdade, ainda os estou a fazer. A minha única incerteza era se os completaria às 24h deste dia ou se às 00h do dia subsequente. Dúvidas, dúvidas... São como as rugas. Começam a aparecer aos 40. Mas eu só tenho esta idade. Ainda sou desprovido de capacidades de idades superiores. Por exemplo, ainda me entusiasmo quando vejo uma rapariga a beber Pleno Tisanas. Há algo de inexplicável naquele momento. É a bebida? É a rapariga? Ambas? Não, acho que prefiro Compal. E não, não gosto de mulheres maduras. E não, não são ambas.
Pior do que todo este embaraço circunstancial é aquela rampa. Nunca percebi nem nunca compreendi todos os porquês. É como um elevador subir ao 10º andar num prédio só com o rés-do-chão.
Hoje fiz 18 anos. O meu nome é Marílio João e toda a vida quis fazer 17 anos, mas desperdicei essa oportunidade.